Cultura e os “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

Por Silvia Blumberg

Cultura e os “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

Na última prova do ENEM o tema foi invisibilidade do trabalho da mulher.

No meu vestibular faturei o primeiro lugar em Serviço Social da UFRJ! E se tivesse participando do ENEM/ 2023? Vamos lá!

Segundo economista e presidente da Sociedade de Economia da Família e do Gênero (GeFam), Lorena Hakak explica o termo, no Jonal Valor de 05/11/2023:

“É invisível, por exemplo, quando alguém chega em casa e a comida está pronta. Alguém fez aquela comida, ficou duas ou três horas cozinhando, alguém alocou tempo para cuidar de uma criança. Quando vemos uma criança bem nutrida, saudável e feliz, tem alguém cuidando dela e toda a sociedade acaba sendo beneficiada”.

Nos primórdios dos tempos a força masculina e os desafios da caça obrigavam a divisão do trabalho. Homens na caça e mulheres cuidando da prole.

Os tempos mudaram! Escravidão, guerras, revoluções industriais e tecnológicas.

No Brasil, a escravidão demarcou as relações trabalhistas que ainda ecoam até os nossos dias. A revolução industrial, não teve o mesmo impacto obtido nos Estados Unidos, onde as famílias de quase todas as classes sociais têm acesso a máquinas que agilizam e facilitam os trabalhos domésticos, economizando o tempo que se disponibiliza para os cuidados.

A situação aqui é muito diferente: os aparelhos eletrodomésticos não são acessíveis, a energia elétrica é muito cara e ainda não há políticas públicas que ajudem as famílias com creche, pré-escola e locais adequados para as pessoas com deficiências e idosos.

Os trabalhadores, homens e mulheres, perdem muitas horas se deslocando de suas residências para o trabalho.

Como valorizar e recompensar as mulheres por suas atividades domésticas e de cuidados em geral neste contexto de tantas dificuldades? 

O grande desafio não é apenas recompensar as mulheres por suas jornadas, o desafio é também viabilizar que os homens tenham tempo para ajudar nas tarefas domésticas e ainda que as políticas públicas e privadas voltadas para crianças e idosos funcionem adequadamente para apoiar as famílias em seus maiores problemas, em especial durante a faixa etária reprodutiva, e que seja possível o trabalho da mulher fora de casa com menos preocupações.
Os homens podem ou poderão dividir as tarefas domésticas dependendo de inúmeras variáveis. Quanto menor a escolaridade, mais tempo os homens gastam para suas idas e vindas do trabalho.

Há ainda a marca da cultura do machismo na maioria das classes sociais, na qual os meninos não são educados para lavar louça ou cozinhar, por exemplo.

Temos muitos homens em trabalhos precarizados, mulheres também! Não seria surrealista debater a matéria da invisibilidade do trabalho feminino diante do quadro de empregabilidade e disponibilidade de tempo para que os homens pudessem dividir as tarefas?

Os economistas que me perdoem, mas acredito que são necessárias inúmeras mudanças culturais, implantação de serviços de apoio para todas as tarefas voltadas para o cuidado e muito esforço por parte das áreas públicas e privadas, para ser possível a justa remuneração, ou compensação do trabalho das mulheres para apoiar suas famílias.

Para começar, precisamos ter pessoas de todos os gêneros capacitadas para ocupar empregos e, assim, vagas com remunerações mais elevadas, o que ampliaria as possibilidades das famílias investirem em serviços de apoios, bem como na aquisição de equipamentos que facilitam as tarefas domésticas.

Com mais recursos, haveria igualmente maiores condições de dividir os cuidados que por ora continua concentrado nas mulheres.

Nas últimas décadas quais primeiras-damas deram exemplos para população sobre o trabalho feminino? Só me recordo de Ruth Cardoso.

O que me impressiona é o tema ser uma redação nacional, já que as desigualdades citadas impactam diretamente as possíveis respostas! 

Concluo que os responsáveis pelo tema pensam na libertação das mulheres de inúmeras atividades, mas se esquecem de que é necessária infraestrutura e cobertura de políticas públicas e privadas para ser possível o contrapeso social, ou seja, não sobrecarregar a mulher!

Por Ultima Hora em 13/11/2023
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