Ministro da Defesa ameaçou presidente da Câmara dizendo que não vai haver eleições sem o voto impresso

General Braga Neto abraça delírio de Bolsonaro que, em pleno século 21, quer voltar a 1964, fechar o regime e impor uma ditadura após o Brasil viver seu mais longo período democrático

Ministro da Defesa ameaçou presidente da Câmara dizendo que não vai haver eleições sem o voto impresso

REDAÇÃO - Parecia o delírio de apenas uma pessoa que desde que apareceu no cenário político sempre defendeu a ditadura, mas não. O atual presidente Jair Bolsonaro não está só em seu projeto ditatorial. Ninguém menos que o Ministro da Defesa, general Braga Netto, também está ‘fechado’ com o presidente nas ‘aproximações sucessivas’ que as Forças Armadas vem operando desde o golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff.

É o que revelam as jornalistas Andreza Matais e Vera Rosa, em reportagem publicada no Estado de S. Paulo. "No último dia 8, uma quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), recebeu um duro recado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, por meio de um importante interlocutor político. O general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica", apontam.

A portas fechadas, Lira disse a um seleto grupo que via aquele momento com muita preocupação porque a situação era “gravíssima”. "Lira considerou o recado dado por Braga Netto como uma ameaça de golpe e procurou Bolsonaro. Teve uma longa conversa com ele, no Palácio da Alvorada. O presidente da Câmara disse ao chefe do Executivo que não contasse com ele para qualquer ato de ruptura institucional. Líder do Centrão, bloco que dá sustentação ao governo no Congresso, Lira assegurou que iria com Bolsonaro até o fim, com ou sem crise política, mesmo se fosse para perder a eleição, mas não admitiria golpe", informam as repórteres.

"O recado dos militares e a reação de Lira são de conhecimento de um restrito grupo da política e do Judiciário", acrescentam. As duas jornalistas também procuraram o Ministério da Defesa, que não se pronunciou.

Roteiro de uma tragédia anunciada e as ‘aproximações sucessivas’
Em 12 de abril de 2021, a BBC Brasil publicou matéria sobre a deterioração do processo democrático no Brasil. Segundo o site, o Brasil é o quarto país que mais se afastou da democracia em 2020 em um ranking de 202 países analisados. A conclusão é do relatório Variações da Democracia (V-Dem), do instituto de mesmo nome ligado à Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

Publicado em março de 2021, o documento é um importante instrumento usado por investidores e pesquisadores do mundo todo e do Brasil para definir prioridades de ações globalmente.

De acordo com o índice, no qual 0 representa um regime ditatorial completo e 1, a democracia plena, o Brasil hoje registra pontuação de 0,51, uma queda de 0,28 em relação à medição de 2010, que ficou em 0,79.

A queda do país só não foi maior do que as de Polônia, Hungria e Turquia. Os dois últimos, um sob regime do direitista Viktor Orban e outro sob comando do conservador Recep Erdogan, se tornaram oficialmente autocracias, na classificação do V-Dem.

"Quase todos os indicadores que usamos mostram uma drástica queda do Brasil a partir de 2015. O único ponto em que o país não perdeu de lá pra cá foi em liberdade de associação", disse o cientista político Staffan Lindberg, diretor do Instituto Variações da Democracia.

Desde o golpe contra o processo democrático em 2016, que tirou a Presidenta Dilma Rousseff da presidência que os militares vem conquistando protagonismo na cena política. Primeiro como general Sérgio Etchegoyen foi nomeado, no governo interino de Michel Temer, para o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, depois com Braga Netto, que em 16 de fevereiro de 2018, foi nomeado interventor federal na Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.

Outro fator que comprometeu claramente nossa democracia e revelou a tomada definitiva do Estado brasileiro pelas forças armada foi quando, por ‘sugestão’ do então comandante do exército, general Villas Bôas, o general Fernando Azevedo e Silva foi nomeado do ‘assessor’ do presidente do STF na época, o ministro Dias Toffoli.

Como costumava falar o vice-presidente da República, o também general Hamilton Mourão, são as aproximações sucessivas que pelo visto se aproximam do seu desfecho.(Com agências)

Por Ultima Hora em 22/07/2021
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