Bic Capital: Empresa denunciada por fraude financeira captava clientes em reuniões da Adhonep

Com promessa de rendimentos de 5% ao mês nos investimentos em criptomoedas, clientes chegaram a vender imóveis; possíveis laços com a GAS do "Faraó dos Bitcoins" e outros operadores

Bic Capital: Empresa denunciada por fraude financeira captava clientes em reuniões da Adhonep

A Delegacia de Defraudações (DDEF) do Rio de Janeiro apura mais uma denúncia de empresa que estaria operando com pirâmide financeira e recrutando investidores com promessa de rentabilidade lastreada em criptomoedas e fundos de investimentos.

Desta vez, o alvo de uma investigação é a Bic Capital, do empresário Leonardo Rangel da Cunha e do seu sócio, Marcelo Vasconcelos. A empresa é um braço da Bic Empreendimentos Ltda, do mesmo grupo econômico.

Pirâmide da Bic Capital: empresa denunciada na Delegacia de Defraudações do Rio de Janeiro.

Leonardo Rangel da Cunha (à esq.) e Marco Aurélio: CEO o suposto sócio oculto da Bic | Foto: Reprodução.

Em um de seus portfólios, a Bic informa que foi fundada em 2020 no segmento de holding familiar, ancorada no histórico do empresário Altomir Rangel Pires, pai de Leonardo e presidente da Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno) no Brasil.

A entidade originalmente foi fundada nos EUA em 1955, até ser trazida para o Brasil em 1977, como uma espécie de franquia da matriz.

De acordo com a denúncia, já no seu primeiro ano, a Bic conseguiu atrair investidores por meio de network nas reuniões administradas pela Adhonep, sempre em jantares realizados nos restaurantes e hotéis mais nobres da cidade do Rio. 

O atrativo para a clientela era a promessa de pagamentos de dividendos mensais de até 5% sobre o capital investido.

Os investidores relatam que aplicaram valores variados, por meio de transferências bancárias, após assinatura de contrato. Um deles fala em aplicação na ordem de R$ 350 mil, apurados com a venda de um imóvel.

“Durante 10 meses a empresa depositou o dinheiro regularmente. Ou seja, até agosto de 2021. A partir daí eles deixaram de pagar”, diz um dos denunciantes sob a condição de anonimato, por temer represálias.

Para pagamento aos clientes, o operador Marco Aurélio Duarte da Silva Junior, chegou a repassar dinheiro aos utilizando sua conta pessoal e de familiares, conforme demonstram recibos bancários e diálogos por meio de mensagens no WhatsApp.

Ele é apontado como sócio oculto da empresa e no trecho de uma conversa com investidores ele afirma: “Estou enviando a conta da nossa empresa. Se fecharmos na segunda (feira), consigo te colocar no contrato”.

O Estouro da BIC

Prédios e centros logísticos apresentados pela BIC

Portfólio da Bic Empreendimentos

Bic investimentos: delegacia de Defraudações investiga indícios de pirâmide financeira e prejuízos em clientes.

A holding familiar a que se refere o material de apresentação da Bic, reúne dezenas de CNPJs, ou seja, empresas constituídas junto a Receita Federal, o que seria uma forma de demonstrar lastro financeiro (ainda que seja fictício), para proporcionar segurança aos investidores e agentes financeiros. A polícia deve apurar se as empresas existam apenas no papel, sem qualquer atividade produtiva.

O caso que poderá se configurar como “golpe da Bic”, já é alvo não apenas de denúncias em sede policial, mas também de ações judiciais.

Na Delegacia de Defraudações, a denúncia destaca indícios de fraudes contábeis, crimes continuados contra a economia popular, indícios de fraude em cartórios para registro de imóveis e sonegação fiscal, lavagem de capital, crime financeiro, falsidade ideológica, fraude processual e organização Criminosa.

O caso chegou a ser relatado a um deputado do Estado do Rio de Janeiro, que fez parte da CPI das Pirâmides Financeiras, realizada pela Câmara dos Deputados no ano passado, mas no parlamentar não levou o caso à Comissão que foi presidida pelo deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade).

A CPI concentrou os trabalhos apenas na convocar de jogadores de futebol e outras celebridades envolvidas com o mercado de criptomoedas.

Há relatos de que os sócios da Bic estariam na lista de credores da GAS. A investigação em curso deve apurar se a empresa do trio liderado por Leonardo investia o dinheiro dos clientes na empresa de Gladson Acácio, o “Faraó dos Bitcoins”, ou de outros operadores neste mercado.

Existem fortes indícios de que a Bic funcionava como um degrau na pirâmide financeira, aplicando o dinheiro de seus investidores com parceiros que estavam em degraus mais elevados, obtendo rentabilidade de 10%. Assim, estaria  apurando uma vantagem maior e repassando apenas parte dos lucros para seus possíveis clientes. Em tese, ficaria com a metade do rendimento e passaria a outra metade para os clientes.

O negócio passou a desandar, por coincidência ou não, após a Operação Kryptos, que paralisou as atividades da GAS.

Fraudes no mercado

O mercado de investimentos em criptomoedas tornou-se um sinônimo de fraudes e prejuízos para milhões de pessoas em função das chamadas pirâmides financeiras que operadas por golpistas.

Um dos casos de maior repercussão no Brasil foi revelado no âmbito da Operação Kyptos, que resultou na prisão de Glaidson Acácio dos Santos, proprietário da empresa G.A.S Consultoria Bitcoin, com sede em Cabo Frio (RJ), na Região dos Lagos.

De acordo com investigações da Polícia Federal, a GAS era uma organização criminosa responsável por fraudes bilionárias.

Entre o material apreendido na operação, constavam 21 carros de luxo, 591 bitcoins – equivalente a R$ 147 milhões na cotação da época – e R$ 13,8 milhões em espécie na casa dos suspeitos.

A operação também resultou em prisões de envolvidos no estado do Rio de Janeiro e São Paulo. Um dos presos, estava no Aeroporto de Guarulhos com 25 mil dólares.

Na casa do empresário dono da GAS Consultoria, a PF encontrou malas de dinheiro vivo e precisaram recorrer a uma empresa de valores para contabilizar a quantia de R$ 13.825 milhões apreendida. Também foram recolhidas 100 libras esterlinas, além de valores em euro.

Mirelis, a esposa do Faraó dos bitcoins: prisão nos EUA.

Mirelis Diaz Zerpa, ao lado do marido Glaidson | Foto: Reprodução.

A prisão de Mirelis, esposa do “Faraó”

No último dia 24 de janeiro, a venezuelana Mirelis Diaz Zerpa, a mulher de Glaidson, foi presa em Chicago, nos Estados Unidos. A prisão foi realizada pela Polícia Federal brasileira. Foragida há mais de dois anos, acusada de montar um esquema de pirâmide financeira disfarçado de investimento em bitcoins, sua prisão ocorreu devido à ilegalidade de permanência nos EUA.

A captura contou com a cooperação do U.S Immigrations and Customs Enforcement (ICE) e do Serviço Secreto norte-americano. Contra Mirelis havia um mandado de prisão expedido pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro pelos crimes praticados contra o Sistema Financeiro Nacional, lavagem de dinheiro e integração de organização criminosa.

Outro lado

A reportagem não conseguiu falar com Leonardo e os demais citados como denunciados na Delegacia de Defraudações, mas o espaço está aberto para as respectivas manifestações, caso haja interesse.

*Da Agência Fonte Exclusiva 

Por Ultima Hora em 04/02/2024
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