Copacabana se prepara para receber show de Lady Gaga em meio a preocupações de moradores

Evento `Lady Gaga Todo Mundo no Rio` segue modelo do espetáculo de Madonna, mas residentes questionam restrições de mobilidade e impacto na rotina do bairro

A Praia de Copacabana, palco de alguns dos maiores eventos culturais do Brasil, prepara-se para receber mais um megashow internacional. No próximo dia 3 de maio de 2025, a cantora americana Lady Gaga se apresentará em um espetáculo gratuito intitulado "Lady Gaga Todo Mundo no Rio", seguindo o modelo já utilizado no evento de Madonna em maio de 2024. A expectativa da Prefeitura é de um público superior a um milhão de pessoas, o que promete movimentar a economia local e projetar ainda mais a imagem da cidade internacionalmente.

Porém, a confirmação do evento reacende o debate sobre o impacto dessas grandes produções na rotina dos moradores do bairro, que enfrentam significativas restrições de mobilidade e acesso às suas próprias residências.

Moradores de Copacabana, área que possui o metro quadrado com um dos maiores valores de IPTU da cidade, relatam dificuldades recorrentes durante a realização de megaeventos no bairro. Entre as principais queixas estão o estabelecimento de horários específicos para entrada e saída das residências, a necessidade de credenciamento prévio para acessar certas áreas, além de relatos de abordagens inadequadas por parte de agentes de segurança que, segundo os residentes, "não respeitam nem morador".

Esta situação tem gerado crescente insatisfação entre os habitantes do bairro, que se sentem, nas palavras de representantes de associações locais, "transformados em empregados da prefeitura" durante os eventos.

A Prefeitura do Rio de Janeiro, por sua vez, defende a realização dos grandes espetáculos em Copacabana, argumentando que eles representam importante fonte de receita para a cidade e contribuem para a manutenção do Rio como destino turístico internacional. Segundo dados da Secretaria Municipal de Turismo, cada megaevento em Copacabana gera, em média, um impacto econômico superior a R$ 200 milhões, além de milhares de empregos temporários. Autoridades municipais também destacam que são implementados planos operacionais específicos para minimizar os transtornos aos moradores, incluindo esquemas especiais de trânsito, segurança reforçada e limpeza intensificada antes, durante e após as apresentações.

O show de Lady Gaga, marcado para iniciar às 21h, faz parte de uma estratégia da gestão municipal de consolidar o Rio de Janeiro como cenário de grandes espetáculos internacionais. Seguindo o modelo adotado no evento de Madonna, que atraiu mais de 1,6 milhão de pessoas segundo estimativas oficiais, a apresentação contará com um palco monumental instalado em frente ao Copacabana Palace, estruturas de apoio ao longo da orla e um esquema especial de segurança. Contudo, diferentemente das narrativas oficiais que enfatizam apenas os benefícios econômicos, urbanistas e especialistas em gestão pública questionam a sustentabilidade desse modelo de eventos e seus impactos na qualidade de vida urbana, especialmente em bairros densamente povoados como Copacabana.

Para associações de moradores e alguns vereadores da cidade, o debate não se resume à realização ou não dos eventos, mas à necessidade de aprimoramento dos protocolos de organização, com maior participação dos residentes nas decisões que afetam diretamente seu cotidiano. "Não somos contra os shows, somos contra a forma como eles são impostos e organizados, sem considerar que Copacabana é, antes de tudo, um bairro residencial", afirma Ricardo Amorim, presidente de uma das associações de moradores da região. Entre as sugestões apresentadas estão a criação de um conselho consultivo com participação dos residentes para discutir o planejamento dos eventos, investimentos permanentes em infraestrutura urbana com os recursos gerados pelos espetáculos e revisão dos protocolos de segurança para garantir o respeito ao direito de ir e vir dos moradores durante as festividades.