Editorial

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O Brasil chegou à triste marca de 600 mil pessoas mortas pela Covid-19.

No dia em que o país atinge ao expressivo e lamentável número de mortos, que segundo especialistas é subnotificada, a CPI recebeu nesta quinta (7) dois depoimentos estarrecedores, reveladores, mas demasiadamente humanos.

Tadeu Frederico Andrade, que permaneceu 120 dias internado em hospital da Prevent Senior e quase morreu, e o ex-médico da operadora de planos de saúde, Walter Correa de Souza Neto, ratificaram denúncias contra a empresa em depoimento que seria o último da Comissão Parlamentar de Inquérito se não fosse a convocação do ‘ministro da Saúde’ Marcelo Queiroga, que foi convocado pela terceira vez a prestar esclarecimentos pelo descalabro que assola o país.

Recém-saído do armário da desumanidade bolsonarista em performance inesquecível e deplorável durante sua passagem pela ONU, Queiroga vai explicar ao país, no dia 18 deste mês, as razões pelas quais a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) ou ‘Conivente’, como definiu o senador Oto Alencar (PSD-BA) na sessão de hoje ao saber que o presidente da República mandou retirar da pauta o parecer do grupo de trabalho que veta o uso da cloroquina e do "kit Covid" para combate à doença. O parecer seria objeto e de decisão do Conitec nesta quinta-feira (7).

E por essa razão o brioso senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) solicitou a convocação do ministro que, segundo ele, está se ‘pazuelizando’. E segundo os críticos em geral, ‘não passa de um Pazuello de jaleco’.

Ao mesmo tempo que os depoimentos do senhor Tadeu, o sobrevivente, e do médico Walter, o corajoso, humanizaram a CPI e revelaram como uma fotografia o modus operandi da ideologia nazista em curso no país desde 2018, por outro lado o presidente da República insistiu em mostrar o lado negativo da mesma fotografia do país ao defender a cloroquina em sua ‘Live de quinta’.

Ao contrário do que muitos analistas qualificados acham, a postura do presidente não é um delírio que visa apenas mobilizar seus seguidores. É muito mais que isso, é uma estratégia de defesa que vem sendo montada desde a instalação da CPI e que teve seu ápice em seu discurso na ONU no dia 21 de setembro.

Por trás das mentiras e distorções proferidas por Bolsonaro para todo o planeta, a fala do chefe do executivo federal visava municiar os depoentes da CPI e os senadores que defendem o indefensável na Comissão Parlamentar de Inquérito.

Bolsonaro enfatizou seu discurso na “autonomia médica”, na “liberdade” e no “inconformismo” com o tratamento dado por todo o mundo ao comprovadamente INEFICAZ “tratamento precoce”.

Todos os seus argumentos serviram de esteio para os depoimentos do diretor da Prevent Senior Pedro Benedito Batista Júnior, no dia 22 de setembro e dos empresários Danilo Trento, dia 23, Luciano Hang, dia 29 e Otávio Fakhoury, dia 30 do mesmo mês. E obviamente, para os quatro senadores assumidamente governistas da CPI.

Talvez o Brasil seja o único país que ainda discuta a validade do tal “tratamento precoce”.

Certamente o Brasil ainda faz essa discussão porque o pior presidente do planeta precisa insistir em fazer essa “disputa de narrativa” porque sabe que se der o braço a torcer vai reconhecer, publicamente e de forma humilhante, que é um criminoso, um mentiroso patológico e que vai passar o resto dos seus dias na cadeia.

Porém, no país que foi o único da América Latina a não fazer “Justiça de Transição” para julgar os crimes das ditaduras que varreram a América Latina durante os anos 1960, é possível que essa política de extermínio calculada não seja punida como deve ser, mas cabe à imprensa e às instituições que ainda resistem ao nazi-fascismo em curso resistir e confrontar os que acham que vão passar incólumes pelo maior extermínio de seres humanos já presenciados no Brasil.

Essa Tribuna da Imprensa seguirá reta em seus princípios radicalmente democráticos, nacionalista, constitucionalista, defensor da soberania nacional e contra o desmonte do Estado brasileiro e a entrega do nosso patrimônio natural e material, como vem acontecendo desde 2016.

E obviamente, alinhado à Ciência.

Por Ultima Hora em 08/10/2021
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