SUPERVIA: O AUMENTO DA PASSAGEM EM TEMPOS DE PANDEMIA E DESEMPREGO

SUPERVIA: O AUMENTO DA PASSAGEM EM TEMPOS DE PANDEMIA E DESEMPREGO

Desde o início da pandemia da covid-19, como Presidente da Comissão de Transportes da Alerj, tenho defendido sistematiamente o congelamento de todas as tarifas relacionadas ao transporte público. O motivo é óbvio: vivemos em meio a maior das crises sanitárias da história e um cenário de desemprego desolador.

Divulgada no último dia 30 de abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)*, a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad) Contínua revela uma taxa de desocupação de 14,7% no país, o que significa aproximadamente 14,8 milhões de brasileiros desempregados. É o maior contingente desde 2012. 

Esses números colocam o Brasil na 14ª posição entre as maiores taxas de desemprego do mundo. Entre os países sul-americanos, registra a pior média, de acordo com o levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global.

No Rio de Janeiro, o desemprego ainda supera negativamente a média do país. No fim do primeiro trimestre, o estado já contava com 1,6 milhão de desempregados (316 mil a mais que o registrado em março de 2020). A taxa de desemprego do Rio é a 5ª pior entre todas as unidades da federação, perdendo apenas para Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco.

Tendo em vista este cenário, a Supervia anunciou, para o próximo dia 1º de julho, a implementação do reajuste do valor das passagens dos trens para R$ 5,90. O aumento já havia ocorrido no início de fevereiro, mas, devido às tratativas entre o Governo do Estado e a empresa, a passagem recebeu um "desconto temporário" de 90 centavos, que deverá ser reincoporado no primeiro dia do mês que vem.

Na mesma linha de outras concessionárias do transporte de público, a Supervia alega "perdas financeiras", o que, na prática, significa redução de lucros. Como costumo dizer, o empresário não está aí para fazer caridade, ele está preocupado é com o lucro de seus negócios. Entretanto, quando se trata de um serviço público essencial em meio a uma crise humanitária, o que se espera dessas empresas "parceiras" é o mínimo de humanidade.

Além disso, a qualidade do serviço prestado é questionada diariamente pelo conjunto da população. Inclusive, o anúncio do reajuste ocorreu cinco dias após o incêndio em uma composição do ramal de Belford Roxo, na estação Del Castilho. Os horários de circulação continuam irregulares, os intervalos continuam enormes e as normas sanitárias continuam sendo descumpridas durante a pandemia, o que dificulta ainda mais a compreensão desse reajuste por parte da população. Não há nexo nem lógica nessa relação do "quanto pior, mais caro".

Os custos do "prejuízo", alegado pelas concessionárias, é fato, recairão única e exclusivamente sobre os ombros dos usuários do sistema. Do ponto de vista técnico, a ideia de aumentar o valor da passagem para cobrir os custos não me parece eficaz, uma vez que com o serviço mais caro, a população pode optar por outro tipo mais econômico ou simplesmente abandoná-lo pela incapacidade de pagamento.

Seguindo este raciocício, existe um risco de colapso do sistema de ônibus, que, como bem sabemos, não deveria ser tratado como transporte de massas, tarefa que cabe ao trem e ao metrô.

É importante sempre ressaltar que a Supervia é uma concessionária de serviço público. Sua operação não deve - ou não deveria - visar o lucro. A empresa recebe incentivos governamentais para atender a população. Por isso, entregar a conta da crise para os usuários é uma covardia que não podemos permitir.

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Se não há reclamações quando os lucros são exorbitantes, essas empresas também precisam aprender a assumir sua responsabilidade social em tempos de "vacas magras". No momento, temos muitos irmãos que sequer têm comida na mesa. É neles em que concentro minha maior preocupação.

Dados do IBGE: https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php

 

Dionisio Lins é Deputado Estadual, líder do Progressistas na Alerj e Presidente da Comissão de Transportes.

 

*Este texto é de total responsabilidade de seus idealizadores.

Por Dep. Dionísio Lins em 07/06/2021
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