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Uma das atrações mais impressionantes da Rio Boat Show não está apenas nos luxuosos barcos expostos, mas na história que eles carregam antes mesmo de chegarem ao evento. Os veleiros da Beneteau, fabricante francesa com 140 anos de tradição, percorrem o Oceano Atlântico em uma travessia épica conduzida por skippers profissionais como Luciano Guerra, que revelou os bastidores dessa jornada marítima que conecta continentes e desafia homens e máquinas.
"O skipper é o responsável por navegar essa embarcação de forma internacional, onde a gente faz o cruzamento do oceano velejando. Ele é responsável por trazer a embarcação, chegar com uma embarcação segura até o porto brasileiro desde o porto de origem", explica Luciano Guerra, profissional da Aloha Nautica. As embarcações saem da região da Bretanha, no norte da França, e percorrem aproximadamente 5.000 milhas náuticas até chegarem ao Brasil, em uma viagem que combina técnica, planejamento meticuloso e profundo conhecimento dos oceanos.
O processo de preparação para a grande travessia é minucioso e começa muito antes de a embarcação tocar as águas do Atlântico. "O processo começa quando a gente recebe a embarcação da fábrica e faz um ciclo de inspeção, são mais de 2.500 itens a serem inspecionados", detalha Guerra. Após essa verificação inicial, cada ajuste necessário é documentado em um relatório enviado ao construtor do barco para as devidas correções. Somente depois desse processo, o veleiro é provisionado com combustível, água, alimentos, ferramentas e equipamentos de salvatagem para iniciar sua jornada.
A rota traçada pelos skippers segue um caminho histórico, similar ao utilizado pelos grandes navegadores do passado. Partindo do norte da França, a primeira parada ocorre próximo à Galícia, no norte da Espanha, para a revisão obrigatória de 50 horas do motor. Em seguida, navegam até as Ilhas Canárias, ponto estratégico para reabastecimento e eventuais ajustes técnicos. De lá, iniciam a travessia oceânica propriamente dita, rumo a Salvador, na Bahia, onde são realizados os procedimentos aduaneiros com a Receita Federal e Polícia Federal para a legalização da embarcação no país.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos skippers é manter a embarcação como nova durante toda a travessia. "É um grande desafio. Todas essas almofadas, as mesas que estão hoje expostas aqui, lindas e maravilhosas, elas são completamente guardadas, tudo embalado. As camas não são utilizadas, os colchões são embalados e guardados", revela Luciano. Os profissionais trazem seu próprio material para dormir e cozinhar, utilizando o mínimo possível da embarcação. "Na cozinha, a gente não usa os utensílios da embarcação, são utensílios próprios." A gente lacra o forno, utiliza somente uma boca de fogão para que o fogão chegue completamente novo, zero quilômetro", completa.
A vida a bordo durante esses aproximadamente 40 dias no oceano cria uma relação quase simbiótica entre o navegador e a embarcação. "Para gente que é velejador, é fantástico, porque a todo momento você tem cenas interessantes acontecendo." O barco passa a ser quase que um ser que está cuidando de você, então você acaba pegando uma afinidade muito grande, ao ponto de quando você chega no porto de destino, você fala: 'Caramba, estou saindo daquele ser que cuidou de mim durante dois meses'", descreve o skipper, emocionado.
Essa experiência única é compartilhada por uma equipe enxuta, geralmente composta por apenas dois profissionais que se revezam em turnos para garantir que a embarcação navegue com segurança 24 horas por dia. "Somos skippers profissionais, a gente tem um procedimento muito bem definido para que a gente consiga descansar, se alimentar adequadamente, para que a gente chegue no Brasil com saúde", explica Luciano, quando questionado sobre a dificuldade da travessia com uma equipe tão reduzida.
Para além do desafio, há o deslumbramento de viver uma experiência que poucos têm o privilégio de conhecer. "É uma emoção muito grande porque você tem uma super varanda." Afinal de contas, barco é uma super varanda com nascer do sol muito lindo, pôr do sol muito lindo, golfinhos, baleias, e tudo isso mudando a cada momento", descreve Guerra, que considera seu trabalho mais que uma profissão. Quando questionado se sua atividade é fruto da paixão, ele responde com sabedoria: "Não, paixão é fogo de palha." É amor, porque amor dura."
Por Robson Talber @robsontalber entrevista Renata Barbosa @beleza.naotemidade
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