Bap na mira da torcida: Preços altos afastam torcida tradicional do Flamengo

Torcedores, jogadores e ídolos se unem em críticas à política de ingressos do clube, que prioriza faturamento em detrimento da presença popular no Maracanã

Bap na mira da torcida: Preços altos afastam torcida tradicional do Flamengo

Maracanã vazio preocupa rubro-negros

Memes da torcida na redes

O Flamengo, clube de maior torcida do Brasil, enfrenta uma crise inédita de relacionamento com seus torcedores. Nas últimas semanas, a política de preços de ingressos adotada pela atual diretoria, presidida por Bap, tem gerado protestos e acusações de elitização do futebol, com valores que variam de R$ 80 a R$ 500.

O resultado dessa precificação já é visível nas arquibancadas do Maracanã. Nas duas primeiras partidas do Brasileirão como mandante, o clube registrou públicos abaixo do esperado: contra o Internacional, 48.452 presentes (45.528 pagantes) e diante do Juventude, apenas 31.445 torcedores (28.931 pagantes).

"A reclamação dos rubro-negros é que, com ingressos mais baratos, o estádio estaria mais cheio e, consequentemente, com uma boa renda", destaca a reportagem. O clube, por sua vez, justifica os valores com os custos logísticos envolvidos na operação dos jogos.

Protestos ganham força nas arquibancadas e ruas

A insatisfação dos torcedores tem se manifestado de diversas formas. Na partida contra o Juventude, uma faixa com a mensagem "Ingresso caro, arquibancada vazia" foi exibida no estádio, acompanhada de xingamentos ao presidente do clube.

O protesto ganhou contornos mais intensos no clássico contra o Vasco, quando um boneco com a imagem do presidente Bap foi amarrado em um poste próximo ao Maracanã, com a inscrição "Bap, inimigo do torcedor".

Um torcedor entrevistado pelo Lance! resumiu o sentimento de exclusão: "Sou 'mulambo'. Preto, mesmo, cabelo duro. Estão tirando esse torcedor do estádio. Se você vier na quarta, não vem no sábado. Está complicado. Só quer botar barato quando está precisando da gente. Sem a gente, o Flamengo não é o Flamengo".

Elenco e ídolos se posicionam a favor da torcida

O descontentamento ultrapassou as arquibancadas e chegou ao elenco profissional. O zagueiro Danilo foi enfático após o jogo contra o Juventude: "Realmente é muito mais legal jogar com o Maraca cheio. O Flamengo é do povo. Espero que a nossa diretoria possa encontrar um caminho bacana".

O técnico Filipe Luís também manifestou preocupação com o esvaziamento do estádio: "O que eu mais quero é que o torcedor nos leve, nos empurre e lote o Maracanã. Precisamos muito dele no estádio para poder performar melhor. Os jogadores se motivam muito mais quando a festa é linda na torcida".

Júnior, ídolo histórico do clube, criticou não apenas os preços, mas também o formato de venda dos ingressos durante transmissão de jogo pela Libertadores: "O perfil dos torcedores aqui é completamente diferente daquele torcedor popular que vem realmente para incentivar".

Dilema entre receita e identidade popular

Apesar das críticas, o Flamengo tem conseguido boas arrecadações. Somando as bilheterias dos dois jogos do Brasileirão, o clube faturou R$ 5.446.560,00, mesmo com o estádio abaixo da capacidade.

O caso evidencia um dilema do futebol moderno: como equilibrar a necessidade de maximizar receitas com a manutenção da identidade popular do clube? O Flamengo consegue boas arrecadações mesmo com público reduzido, mas perde em ambiente e apoio da torcida, além de afastar seu torcedor tradicional.

A situação ocorre em um momento em que o clube planeja seu futuro estádio na região portuária do Rio. O projeto, apresentado em novembro de 2024 durante a gestão de Rodolfo Landim, prevê cerca de 24 mil lugares em setores populares. No entanto, a atual diretoria ainda não se manifestou sobre a política de preços para a nova arena.

Perspectivas para solução do impasse

Especialistas apontam que o clube poderia adotar medidas como política de preços escalonados com mais faixas de valores, criação de setores populares com ingressos acessíveis, programas de fidelidade para frequentadores assíduos e ingressos promocionais em jogos de menor apelo.

O debate no Flamengo reflete uma questão mais ampla sobre a elitização do futebol brasileiro e o afastamento das classes populares dos estádios, fenômeno que tem se intensificado nas últimas décadas e que agora encontra resistência organizada da torcida mais popular do país.

POR RICARDO XERÉM

Por Ultima Hora em 28/04/2025
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