Europa: uma senhora fina, educada, mas decadente

Europa: uma senhora fina, educada, mas decadente

Em Porto, no final das férias, deparo-me com um apagão que, segundo o noticiário, atingiu desde a Península Ibérica até parte da Alemanha. O súbito colapso energético, para além da inconveniência óbvia, fez-me refletir sobre um tema já há muito presente na minha mente: a crise europeia e o progressivo apagamento do seu apogeu.

A Europa: sempre sofisticada, sempre culta, sempre… em crise. O continente que outrora comandou o mundo agora esforça-se para não tropeçar no seu orgulho, tentando equilibrar tradição e inovação, identidade e globalização, riqueza e… falta de energia.

Bem, se me permitirem, vou discorrer sobre alguns temas do velho continente, que já tinha pensado, mas que agora ganham forma.

É evidente o declínio europeu, há já algum tempo sinalizado por vários pensadores e por mim (mui modesto eu…). Vamos à narrativa:

A crise demográfica é um dos sintomas mais evidentes deste declínio. Com taxas de natalidade em queda e uma população cada vez mais envelhecida, o continente parece ter-se transformado num elegante clube da terceira idade, onde os jovens são uma espécie rara e os sistemas de seguridade social imploram por reformas. Enquanto isso, os governos tentam convencer as pessoas de que ter filhos ainda vale a pena, mas com o custo de vida nas alturas e oportunidades econômicas escassas, muitos europeus preferem investir num gato e numa boa garrafa de vinho em vez de construir uma família.

No campo econômico, a Europa continua apegada aos modelos da velha Revolução Industrial, como quem não consegue libertar-se de um casaco velho e requintado, mas completamente fora de moda. O problema? Enquanto os Estados Unidos e a China lideram a revolução tecnológica, a Alemanha, com os seus BMW e Mercedes-Benz, é ofuscada por Elon Musk e a sua Tesla. O continente ainda procura descobrir como integrar a inteligência artificial sem assustar os burocratas de Bruxelas. Startups surgem aqui e ali, mas o peso de uma estrutura econômica antiquada faz com que pareçam crianças a brincar no museu do Louvre ou do Prado.

E depois temos o turismo – esse setor que, ao mesmo tempo que sustenta a economia de inúmeras cidades, também as transforma em parques temáticos para selfies. Barcelona, Veneza, Amsterdã e até Lisboa já estão cansadas de receber visitantes que tratam as suas ruas como cenários de filme e os seus moradores como figurantes. O resultado? Movimentos anti-turismo em ascensão, protestos contra hordas de turistas desavisados e a eterna questão:

Como equilibrar turismo e qualidade de vida sem transformar as cidades em meros pontos de venda de souvenirs para turistas? Detalhe: se eles se forem, estas cidades perdem cerca de 20% do seu PIB.

 

A emigração também contribui para este espetáculo. Em Portugal e noutros países menos relevantes, jovens qualificados, desiludidos com salários medíocres e oportunidades limitadas, fazem as malas e partem à procura de uma vida melhor em países mais dinâmicos. Enquanto isso, a imigração preenche as lacunas deixadas, trazendo novos trabalhadores e culturas para o continente. O dilema? Os governos europeus tentam promover a integração dos recém-chegados, enquanto parte da população resiste a qualquer mudança que ameace a sua zona de conforto.

Politicamente, todos estes fatores têm alimentado o crescimento da extrema-direita. O medo da mudança, o descontentamento econômico e a nostalgia por um passado idealizado impulsionam discursos populistas que prometem soluções rápidas para problemas complexos. Enquanto isso, a União Europeia luta para manter a coesão entre os seus membros, tentando evitar que mais países sigam os passos do Reino Unido e decidam abandonar o barco.

A Europa sempre foi um farol da civilização ocidental, mas agora o farol, ilumina para trás, sem utilidade. O grande dilema: manter a pose aristocrática ou aceitar que precisa urgentemente de uma reforma? O futuro dirá se o continente conseguirá reinventar-se ou se seguirá a sua lenta caminhada rumo à irrelevância, com uma boa garrafa de vinho na mão e um olhar saudoso para tempos melhores.

Retomando as minhas atividades, despeço-me, desejando um excelente fim de semana e até à próxima.

Filinto Branco - colunista político

Por Ultima Hora em 02/05/2025
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