Milei segue exemplo deixado por Bolsonaro e declara guerra à imprensa

Milei segue exemplo deixado por Bolsonaro e declara guerra à imprensa

Via O Globo

“As pessoas não odeiam suficientemente os jornalistas.” A frase não foi dita por um militante do partido governista argentino A Liberdade Avança, nem por um dirigente aliado ao presidente argentino, Javier Milei. Ela foi escrita pelo chefe de Estado da Argentina, na última terça-feira, em sua conta na rede X.

Outros presidentes argentinos tiveram relações tensas com a imprensa nacional. Quando estava no auge de seu poder, o casal de ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner tentou acabar com o grupo de meios de comunicação Clarín. Não conseguiu. Mas nunca antes no país um presidente incitou, como faz Milei, o ódio aos jornalistas.

O tuíte do presidente foi publicado no momento em que o chefe de Gabinete de seu governo, Guillermo Francos, explicava ao Congresso o escândalo da criptomoeda $LIBRA, promovida por Milei em suas redes sociais. Dias antes, o assessor presidencial Santiago Caputo, eminência parda do governo argentino, escreveu a mesma frase em sua conta na rede X, em que administra o usuário @MileiEmperador.

O post do presidente começa com o título “Mensagem aos jornalistas”. No texto, Milei acusa os profissionais da área de errarem frequentemente, sem jamais pedirem desculpas. No final, o chefe de Estado divulga a mensagem publicada pela primeira vez por Caputo, que parece virar um mantra na Casa Rosada. A campanha contra os jornalistas argentinos cresce diariamente e preocupa associações integradas por veículos de comunicação argentinos e também organizações como a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).

No último fim de semana, a SIP divulgou um documento no qual faz um alerta sobre os ataques a jornalistas e meios de comunicação por parte de presidentes da região. “Macular a imprensa é prática habitual de governantes populistas de esquerda ou direita, funcionários de menor escalão, dirigentes opositores e trolls nas redes sociais”, apontou a SIP. Segundo a organização, em 14 dos 24 países monitorados na região, observou-se esse tipo de desqualificações. A Argentina é um dos casos observados de perto.

De acordo com o Foro de Jornalismo Argentino (Fopea), que apresentou recentemente seu relatório anual sobre a situação da imprensa no país, as agressões a jornalistas aumentaram de forma expressiva em 2024. Em reiteradas oportunidades, o foro pediu ao presidente Milei que tenha “uma relação institucional madura com a imprensa, respeitando o dissenso e a crítica”. No ano passado, o Fopea registrou 179 agressões a jornalistas, o que representa um aumento de 53% em relação a 2023. Do total de casos do ano passado, 45,25% foram considerados “atentados contra a reputação de jornalistas”.

A guerra de Milei contra setores da imprensa argentina acontece enquanto a oposição ao presidente está totalmente desarticulada. Como ouvi de um diplomata estrangeiro esta semana, “Milei não tem ninguém na frente dele, está sozinho. E esse é o maior problema político hoje do país”. Com resultados econômicos favoráveis e sem uma oposição que consiga capitalizar erros como o escândalo da criptomoeda ou a fracassada designação de dois juízes da Suprema Corte por decreto, Milei avança com seu projeto de governo e de país. Pelo visto, até agora, a liberdade de imprensa é um direito que incomoda o presidente argentino, que surgiu como dirigente político em programas de TV, nos quais atacava os governos do momento.

Por Ultima Hora em 02/05/2025
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