Quando a violência invade o refúgio da esperança

Ataque com morte em escola de São Paulo traz a certeza de que é preciso que a sociedade deixe de encarar estes casos como eventos isolados.

Quando a violência invade o refúgio da esperança

Nesta semana acompanhamos estarrecidos a mais um caso de violência dentro de uma escola no Brasil. Situações como esta sempre costumam reacender discussões acaloradas na grande mídia, entre especialistas e, principalmente, no meio político, todos em busca de uma resposta que não é nada simples. Pois, para que possamos começar a pensar em soluções reais, antes de tudo, é preciso entender que, casos como este, não são, e nem podem ser tratados como eventos isolados.

Pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que o Brasil é um dos países que têm os maiores índices de agressão contra docentes no mundo. Além disso, 28% dos diretores de escolas que ofertam os anos finais do ensino fundamental relataram ter testemunhado situações de intimidação ou bullying entre os alunos semanal ou diariamente.

Mas por que as escolas se tornaram palco de tanta violência? Será que isso reflete a cultura da violência que permeia a sociedade brasileira? É possível afirmar que há uma relação entre a violência nas escolas e a violência no país, com seus altos índices de homicídios, feminicídios, latrocínios e outros crimes? A resposta não é simples.

Primeiro é preciso entender que as escolas não são ilhas isoladas da realidade social. Elas são espaços de convivência e aprendizagem que reproduzem e produzem valores, normas e práticas que estão presentes na sociedade. Então, se vivemos em uma sociedade marcada pela violência estrutural, pela desigualdade social, pela intolerância, pela banalização da vida humana e pela falta de diálogo e resolução pacífica de conflitos, é razoável pensar que esses aspectos se manifestem também nas escolas.

Por outro lado, sabemos do potencial das escolas como espaços de resistência e transformação social. Um local para se promover a cultura da paz, da solidariedade, do respeito mútuo e igualdade de direitos.

A resultante deste choque entre uma realidade violenta que contamina todos os ambientes da sociedade e o poder de resistir e transformar das escolas pode guardar, não apenas a resposta, dos motivos que têm levado ao aumento dos casos de violência no ambiente escolar, mas, quem sabe, a própria solução para esta mazela e, até mesmo, para todo o resto.

Afinal, da mesma forma que um ambiente tomado pela cultura da violência é capaz de atingir até o ambiente escolar, da mesma forma, uma escola forte, valorizada e transformadora será capaz, não apenas de resistir como de disseminar para além de seus muros os valores ali ensinados.

Para isso é preciso que, cada vez mais, as escolas se tornem núcleos centrais de atenção de todos nós, das comunidades, das famílias e, é claro, do poder público. Só assim poderemos ter, para além da necessidade urgente de uma política educacional de prevenção da violência nas escolas, sobretudo uma política de educação verdadeiramente transformadora.

Por Leonardo Vasconcellos - A Voz da Serra em 29/03/2023
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