O Rio acerta ao apostar nos megaeventos: turismo, economia criativa e palco global

O Rio acerta ao apostar nos megaeventos: turismo, economia criativa e palco global

O show de Lady Gaga em Copacabana, que reuniu 2,1 milhões de pessoas e movimentou mais de R$ 648 milhões na economia local, foi muito mais que entretenimento. Foi a confirmação de uma estratégia: reposicionar o Rio como palco global da cultura, da economia criativa e do turismo.

Não é um evento isolado. Faz parte de uma agenda maior: Rock in Rio, Carnaval Especial, Web Summit, Rio2C, Rio Innovation Week, os jogos no Maracanã e, no horizonte, o novo estádio do Flamengo. Cada evento fortalece uma narrativa que conecta o Rio ao mundo — e o mundo ao Rio.

O prefeito Eduardo Paes entendeu algo essencial: o Rio não compete por indústria ou infraestrutura pesada. Mas pode vencer pelo intangível — emoção, símbolos, experiências que viralizam e marcam a memória coletiva. Ao apostar nos megaeventos, transforma o turismo em motor econômico, cultural, social e de autoestima coletiva.

Os números falam: mais de 60 mil visitantes hospedados via Airbnb, vindos de 1.748 cidades e 66 países, ocupação de 95%. Mais que hospedagem, distribuição de renda para territórios historicamente periféricos, ativando uma liberdade econômica prática, onde pequenos anfitriões transformam suas casas em parte da engrenagem turística.

Mas o impacto vai além. O Rio começa a reconfigurar seu mapa turístico, trazendo novos territórios para o centro da cena. O Parque do Camorim desponta como polo de ecoturismo e turismo de aventura. O Complexo Lagunas de Jacarepaguá revive com passeios náuticos, gastronomia local e projetos ecológicos. Uma nova geografia turística que integra natureza, cultura e hospitalidade.

E há mais: o mercado global de eventos já movimenta US$ 1,4 trilhão em 2024, com previsão de US$ 2,3 trilhões até 2034. O segmento de eventos corporativos sozinho deve crescer de US$ 325 bilhões para US$ 595 bilhões até 2029. Ou seja, o potencial econômico do setor vai muito além do lazer: abrange negócios, inovação e conexões globais.

Expandir o turismo é expandir vozes. Cada evento ilumina moradores historicamente excluídos, que agora oferecem passeios, oficinas e gastronomia autêntica. Fortalece-se uma economia criativa mais plural, diversa, sustentável — e aberta a conexões, sinapses e sinergias entre pessoas, territórios e saberes.

A diversidade do Rio — cultural, étnica, social, territorial — não é apenas um traço. É um ativo estratégico. Cada evento amplia o palco para mulheres, negros, indígenas, LGBTQIA+, artistas periféricos, empreendedores locais. E, ao fazer isso, afirma o Rio como cidade cosmopolita: aberta, plural, conectada ao mundo, capaz de integrar múltiplas culturas e histórias no seu DNA urbano e turístico.

Mais que números, o Rio resgata orgulho e pertencimento. Cada megaevento devolve aos cariocas a certeza de viver numa cidade desejada, admirada, viva e diversa. Não por acaso, as grandes marcas veem o Rio como vitrine global, onde cultura, paisagem, diversidade e emoção convergem em oportunidades únicas de negócios e posicionamento.

Os desafios permanecem: mobilidade, segurança e desigualdade. Mas os megaeventos, ao atrair olhares e investimentos, pressionam por soluções estruturais e inclusivas. Paes aposta nisso: usar o brilho do espetáculo para iluminar caminhos mais duradouros, conectando políticas públicas, investimento privado e participação social.

O convite está feito. Para empresários, gestores, poder público e sociedade civil, a lição é clara: não basta assistir. É preciso integrar-se. Criar produtos culturais complementares, investir em projetos comunitários, fomentar parcerias inovadoras, apostar em infraestrutura verde, abrir redes de cooperação e oportunidades, estimular novas sinapses entre setores e agentes locais.

Mas integrar-se também significa construir as infraestruturas invisíveis: jurídicas, normativas, colaborativas. É garantir que contratos, cessões de uso, permissões, direitos coletivos, saberes tradicionais, arranjos associativos e novos modelos de governança econômica estejam juridicamente preparados para sustentar a liberdade econômica plural que emerge desses eventos.

O Rio não é apenas um palco. É um ecossistema vivo, cultural, econômico, social e diverso, em constante reinvenção. Uma cidade que transforma festa, cultura, natureza e pluralidade em plataforma de inclusão, desenvolvimento sustentável, liberdade econômica — e espaço permanente de conexões, sinapses e sinergias.

Cada novo evento, ao ativar territórios antes invisíveis, transforma não apenas a geografia da cidade, mas sua engenharia social e jurídica. Mostra que o charme carioca não serve apenas para encantar o mundo — serve para transformar a própria cidade, de dentro para fora, com todas as suas vozes, cores, leis e possibilidades.

Jorge Tardin Professor de Direito e Curador da Coalizão Veredicto do Capital jorge@tardin.com.br

Por Ultima Hora em 06/05/2025
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